Desastre de Mariana: Um Julgamento de Colonialismo Jurídico na Justiça Inglesa?
O desastroso rompimento da barragem de Fundão em Mariana, ocorrido em 2015, não apenas devastou o meio ambiente e desabrigou comunidades locais, mas também levantou questões complexas no campo jurídico, especialmente perante tribunais internacionais. A ação que tramita na Justiça britânica, trazendo à tona o debate sobre “colonialismo reverso”, merece atenção não apenas dos especialistas em direito internacional, mas de todos os advogados que atuam em áreas relacionadas à responsabilidade civil e ambiental.
O Contexto Jurídico do Caso
Adentrando no âmago da questão, a ação judicial ajuizada contra uma empresa britânica em decorrência do desastre em Mariana diz respeito à alegação de negligência e omissão. Os postulantes no Reino Unido fundamentam suas reclamações nas práticas comerciais e na responsabilidade civil reguladas sob os prismas do Consumer Protection Act 1987 e da Environmental Liability Directive, ambos instrumentos que visam garantir a responsabilização por danos causados a terceiros e ao meio ambiente.
Nesse sentido, é necessário destacar que o artigo 1º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), que reforça o princípio da proteção à vida e à saúde, ressoa no disco de responsabilidade em questão. Se o dano ocorreu em território brasileiro, cabe à justiça britânica reconhecer sua jurisdição para tratar do caso, especialmente considerando que a empresa possui ativos no Reino Unido.
Colonialismo Reverso: Uma Nova Perspectiva na Justiça Internacional
Na perspectiva do CEO da banca britânica que patrocina a ação, a tentativa de responsabilizar uma corporação estrangeira por atos cometidos no Brasil indica uma forma de “colonialismo reverso”. Este conceito, abordado no direito internacional contemporâneo, sugere que países com sistemas jurídicos mais robustos tentam impor suas normas sobre nações em desenvolvimento. O questionamento que se coloca aqui é: até que ponto essa abordagem é justificável na construção de um direito global equitativo?
As Implicações Para Advogados e Praticantes da Área
Para os profissionais do direito, essa controvérsia não se limita aos aspectos éticos ou morais; ela também envolve práticas de due diligence e avaliação de riscos jurídicos que empresas devem considerar em suas operações internacionais. Advogados especializados em direito ambiental e direito internacional precisam estar atentos a dois momentos críticos na estruturação de defesas:
- O entendimento da aplicação de tratados e convenções internacionais relacionados ao meio ambiente.
- A avaliação da compatibilidade entre legislações locais e internacionais em matéria de responsabilidade civil.
Além disso, os advogados devem considerar o impacto da jurisprudência local e internacional, assim como os precedentes estabelecidos por decisões de casos similares. A análise do artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor brasileiro, que permite a reparação integral por danos causados a consumidores, também deve ser levada em conta ao se pensar na compensação de vítimas e no ressarcimento dos danos ambientais.
Considerações Finais
O desastroso incidente de Mariana propõe reflexões profundas sobre as responsabilidades corporativas e a atuação do direito internacional em um mundo cada vez mais globalizado. A possibilidade de responsabilizar empresas em outras jurisdições sugere novas estratégias e desafios para a prática legal, destacando a importância do debate ético em torno do colonialismo jurídico.
Se você ficou interessado na responsabilidade civil internacional e deseja aprofundar seu conhecimento no assunto, então veja aqui o que temos para você!
Autor: Ana Clara Macedo