Dilemas da Defesa: A Legalidade do Uso de Dados da Dark Web no Processo Penal
A crescente incidência de vazamentos de dados, especialmente os provenientes da dark web, tem colocado os operadores do Direito diante de sérios dilemas. No âmago da discussão está a admissibilidade das provas derivadas de tais fontes nos processos penais, principalmente quando propiciam informações decisivas para a linha defensiva. Afinal, pode a defesa valer-se de elementos obtidos de forma aparentemente ilícita, mas que não promoveu diretamente?
A Origem da Prova e o Princípio da Legalidade
O sistema penal brasileiro é regido pelo princípio da legalidade (art. 5º, II, da CF), que veda a utilização de provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, da CF). No entanto, uma análise mais apurada revela nuances importantes: se a prova ilícita é inadmissível para a acusação, é correto impedir que a defesa, parte hipossuficiente, utilize tais elementos para fundamentar sua tese?
Doutrina e Jurisprudência
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem evoluído no sentido de admitir a prova ilícita em favor da defesa, quando esta não tiver contribuído intencionalmente para sua obtenção, conforme precedentes como o RE 251.445. Já no Superior Tribunal de Justiça, há julgados oscilantes, mas com crescente aceitação de que a prova proveniente de terceiros ou de vazamentos públicos possa integrar o conjunto probatório.
Elementos Contaminados: A Exceção da Boa-fé
Havendo boa-fé da defesa e ausência de conluio com os agentes da coleta ilícita, pode a prova ser validada? O princípio da proporcionalidade, aliado ao direito à ampla defesa (art. 5º, LV, da CF), fornece fundamento importante à sua admissibilidade. Doutrinadores como Aury Lopes Jr. e Gustavo Badaró sustentam tal tese, destacando que a defesa pode invocar a teoria dos “frutos da árvore contaminada” em seu favor, desde que de forma subsidiária.
Riscos Éticos e Técnicos
Mesmo diante da possibilidade jurídica, o advogado criminalista deve ponderar riscos reputacionais, de quebra de sigilo profissional e de validação da cadeia de custódia. Além disso, o manuseio técnico dos dados pode ensejar questionamentos sobre sua veracidade e integridade, especialmente quando se tratam de informações fragmentadas e retiradas de ambientes inseguros como a dark web.
Impactos na Prática Criminal
O avanço da tecnologia exige do operador do Direito constante atualização. O uso de dados vazados em defesa penal reforça a necessidade de atuação multidisciplinar, com parcerias entre peritos forenses, engenheiros de dados e criminalistas. Em um cenário onde a verdade real torna-se cada vez mais digitalizada, a fronteira entre ética, legalidade e pragmatismo segue em constante mutação.
Recomendações ao Advogado
- Verificar a origem dos dados e sua veracidade técnica;
- Analisar a possibilidade de obtenção por fontes lícitas análogas (teoria da descoberta inevitável);
- Evitar qualquer proximidade com condutas tipificadas como crimes informáticos;
- Realizar exposição clara ao juiz sobre o caráter subsidiário e emergencial da prova.
O tema exige atenção redobrada, pois, em última instância, trata-se não apenas de garantir o êxito na causa, mas de preservar os contornos éticos e legais da advocacia em sua essência.
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Por Memória Forense.