Entrega em Perigo: A Urgência da Proteção Jurídica aos Trabalhadores de Aplicativo
A explosão dos serviços de entrega por aplicativo no Brasil gerou não apenas conveniência para os usuários, mas expôs dramaticamente a precariedade da proteção jurídica aos entregadores. Enfrentando jornadas extenuantes, ausência de vínculos empregatícios e nenhuma cobertura previdenciária digna, esses profissionais agora ganham destaque — e também preocupação — na esfera legislativa e jurídica nacional.
O vácuo normativo e a urgência de regulamentação
Parte significativa da problemática enfrentada por esses trabalhadores decorre da ausência de uma legislação específica que os enquadre de forma justa e proporcional à realidade laboral contemporânea. Há um apelo crescente para que o Congresso Nacional debata o PL 4.737/20 e similares, que visam tipificar o trabalho por plataformas digitais, buscando um ponto de equilíbrio entre flexibilidade e proteção social, conforme princípios constitucionais do trabalho (Art. 7º da CF/88).
Precedentes jurisprudenciais e debates judiciais
O Judiciário tem variado suas decisões. A Justiça do Trabalho, em diversos TRTs, tem reconhecido vínculo de emprego em ações movidas por entregadores com base no artigo 3º da CLT — subordinando-se aos critérios de habitualidade, pessoalidade, onerosidade e subordinação jurídica. Contudo, outros julgados consideram que a autonomia e a flexibilidade afastam os requisitos para configuração desse vínculo.
É nesse mosaico jurídico que surgem decisões emblemáticas do TST, inclinadas a examinar caso a caso, refletindo a complexidade dessa nova forma de prestação de serviço intermediada por algoritmos e termos de aceite digital.
Propostas legislativas em tramitação
No seio do Congresso, tramitam algumas proposições com foco nos direitos sociais dos entregadores:
- PL 1665/2022 – Criação de uma nova categoria contratual: trabalhador de plataforma digital;
- PL 1033/2021 – Estende a esses profissionais os direitos da CLT, incluindo FGTS, férias e 13º salário;
- Projetos da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Trabalhador por Aplicativo, que buscam estabelecer um piso remuneratório nacional e regras mínimas de segurança.
Direito à alimentação e a ironia da fome no ofício da comida
O paradoxo mais gritante é o retratado pelo título original da publicação: entregadores de comida, trabalhando sem parar para alimentar a cidade, muitas vezes não têm o que comer. A situação desafia a dignidade da pessoa humana (Art. 1º, III da CF) e contraria o princípio do valor social do trabalho.
A famigerada “uberização” do trabalho promove uma precarização sem precedentes, e exige uma atuação enérgica por parte dos poderes constituídos, em especial o Legislativo e o Judiciário, que devem salvaguardar direitos mínimos e propor respostas regulatórias sólidas.
Desafios para os advogados trabalhistas e previdenciaristas
Para os operadores do Direito, especialmente advogados especializados em Direito do Trabalho e Direito Previdenciário, o momento é de oportunidade e alerta. Há espaço para atuação estratégica em massa, consultoria legislativa, elaboração contratual e contencioso judicial. Compreender as nuances dessas novas relações de trabalho será imperativo na advocacia do futuro próximo.
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Por Memória Forense