Reação Jurídica à Inteligência Artificial: Entre a Regulação e a Responsabilização
A crescente adoção de tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA) está desencadeando reações contundentes nas esferas jurídicas e sociais, provocando uma espécie de backlash regulatório que exige posicionamentos normativos assertivos. A comunidade jurídica deve atentar-se aos contornos legais que envolvem o uso e os impactos dessas tecnologias nos direitos fundamentais, nos contratos e nas práticas públicas e privadas.
O encantamento regulado: a “feitiçaria” da IA e os limites legais
O emprego da metáfora de “grande feitiçaria” para descrever a Inteligência Artificial, conforme descrito na análise crítica disponibilizada pelo Conjur, reflete não apenas os temores da sociedade civil, mas também os desafios enfrentados pelo Direito em delimitar o uso ético e seguro dessa tecnologia. A IA, muitas vezes entendida como uma ‘caixa-preta’, por sua opacidade de funcionamento, requer a aplicação dos princípios da transparência, da responsabilização objetiva e da autodeterminação informativa, estabelecidos na Lei Geral de Proteção de Dados (Lei 13.709/18).
Riscos de retrocesso regulatório
Há indícios de retrocesso político e jurídico no controle da IA, principalmente em regimes que optam por isentar essas tecnologias em nome de inovação ou eficiência. Esse movimento compromete garantias constitucionais, como o direito à privacidade (art. 5º, X, da CF) e o direito à não discriminação. Juristas têm denunciado o uso intensivo de IA para a vigilância em massa, predição comportamental e manipulação algorítmica, com impactos potencialmente devastadores para o Estado Democrático de Direito.
O papel do Judiciário na contenção dos abusos algorítmicos
A jurisprudência brasileira ainda é tímida quanto à responsabilização civil decorrente de decisões automatizadas, mas decisões recentes vêm sinalizando maior vigilância institucional. Nos autos da REsp 1.777.728/MG, o Superior Tribunal de Justiça impôs parâmetros objetivos para o uso de ferramentas tecnológicas automatizadas no contexto de concessão de crédito, destacando a necessária explicabilidade dos modelos utilizados.
Desafios interpretativos e lacunas legislativas
A ausência de legislação específica sobre IA em setores sensíveis, como Justiça, Segurança Pública e Saúde, faz com que aplicadores do Direito lancem mão da utilização analógica de normas preexistentes, como o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), o Código Civil (Lei 10.406/02) e o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/14), como tentativa de disciplinar os efeitos dessas tecnologias nos vínculos jurídicos.
O que os advogados precisam saber hoje
Para atuação segura e moderna, os operadores do Direito devem atentar-se aos seguintes pontos:
- Compreensão dos critérios de responsabilidade civil por decisões automatizadas;
- Conhecimento técnico mínimo sobre funcionamento dos algoritmos e suas implicações jurídicas;
- Domínio da LGPD e sua aplicação concreta em casos envolvendo IA;
- Capacidade crítica para contestar decisões baseadas em IA com argumentos jurídicos sólidos e principiológicos.
Entre a inovação e a distopia jurídica
É legítimo temer que, sob o pretexto de avanço tecnológico, se instalem modelos autoritários de controle social digitalizado. O Direito precisa ocupar seu lugar como instrumento de equilíbrio e proteção dos valores democráticos, evitando que a “feitiçaria” da IA se transforme em instrumento de regressão civilizatória. Conforme assinala o brilhante artigo do jurista Francisco Brito Cruz, a crítica social à IA não representa negação da tecnologia, mas sim a exigência de um modelo de desenvolvimento que respeite a centralidade do ser humano.
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Por Memória Forense