Julgamentos Históricos: De Hitler ao 8 de Janeiro
A análise jurídica dos grandes eventos históricos tem se tornado um instrumento imprescindível para a compreensão do papel do Direito nos processos de ruptura democrática. Recentemente, paralelos vêm sendo traçados entre o julgamento de Adolf Hitler devido ao fracassado golpe de Munique em 1923 e os processos penais decorrentes da tentativa de subversão institucional brasileira ocorrida em 8 de janeiro de 2023.
O quadro histórico: golpes e a Justiça como resposta
Passados cem anos do Putsch da Cervejaria, ocorrido em 8 de novembro de 1923, liderado por Hitler e que representou uma tentativa fracassada de tomar o poder por vias não constitucionais, juristas se debruçam sobre os ecos jurídicos desse episódio. O julgamento de Hitler consolidou sua projeção nacional, ironicamente favorecendo sua ascensão posterior ao poder, e trouxe à tona questões graves sobre o uso do sistema judiciário para legitimar projetos autoritários.
No Brasil, o ataque às instituições democráticas em 8 de janeiro de 2023 oferece novo paradigma. Com centenas de acusados por crimes contra o Estado Democrático de Direito, tipificados na Lei nº 14.197/2021, o ordenamento jurídico brasileiro enfrenta o desafio de julgar expressão contemporânea de autoritarismo incompatível com o postulado republicano.
Aspectos jurídicos em análise
No contexto brasileiro, os crimes foram imputados com base em diferentes dispositivos legais. Entre eles:
- Art. 359-L do Código Penal: tentativa de abolição violenta do Estado de Direito.
- Art. 288 do Código Penal: associação criminosa.
- Lei de Segurança Nacional (anterior) e sua revogação pela Lei nº 14.197/2021.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem sido prudente em garantir os direitos fundamentais dos acusados, em especial em respeito ao due process of law, contraditório e ampla defesa, conforme preceitua o artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal de 1988.
O julgamento de Hitler: lições jurídicas
No caso do julgamento de Adolf Hitler pelo golpe frustrado de 1923, observamos um processo que, apesar de formalmente legal, revelou-se leniente e politicamente permissivo. Hitler foi condenado a cinco anos de prisão, dos quais cumpriu pouco mais de oito meses, período em que redigiu Mein Kampf. A ausência de uma sanção contundente facilitou sua posterior ascensão ao poder.
Comparativo com o 8 de janeiro no STF
Os julgamentos atuais no STF demonstram maior rigor e técnica jurídica. Há expressiva utilização da teoria do domínio do fato e da responsabilidade penal coletiva, o que tem provocado debates entre penalistas quanto aos riscos e limites interpretativos do artigo 29 do Código Penal. A preocupação do tribunal é evidente no sentido de evitar que figuras políticas possam se beneficiar eleitoralmente das acusações e da execução penal, como ocorreu com Hitler.
Direito Penal como elemento de proteção da Democracia
O Direito Penal, em sintonia com os princípios constitucionais e os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário (como o Pacto de San José da Costa Rica), deve atuar de forma proporcional e eficaz na repressão de atos que visem desestabilizar a democracia, desde que observadas as garantias penais e processuais.
Instrumentos constitucionais e resiliência institucional
A existência do Estado Democrático de Direito pressupõe não apenas eleições livres, mas também a proteção institucional contra atentados violentos e conspiratórios. O papel do Poder Judiciário, especialmente da Suprema Corte, é o de guardião da Constituição, conforme o artigo 102 da Constituição Federal, o que legitima a atuação enérgica contra práticas antidemocráticas.
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Por Memória Forense