Nova Reforma Europeia Promove Reequilíbrio Jurídico na Proteção de Dados
A proposta de reforma do Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR), anunciada pela Comissão Europeia em junho de 2025, inaugura uma nova fase de reinterpretação e redirecionamento do mais robusto regime de proteção de dados pessoais do mundo. Mais do que simplificação, os ajustes legislativos buscam refletir as mudanças tecnológicas e responder à crescente demanda por segurança jurídica tanto para titulares quanto para controladores de dados.
Contexto Jurídico e Finalidade da Reforma
Desde sua adoção em 2016 e entrada em vigor em 2018, o GDPR – regulamento (UE) 2016/679 – transformou-se em um paradigma global. No entanto, autoridades reguladoras e operadores do Direito passaram a identificar lacunas práticas quanto à sua aplicação uniforme. A atual reforma busca alcançar dois eixos principais:
- Facilitar o cumprimento normativo, especialmente para pequenas e médias empresas (PMEs);
- Reforçar a aplicação e garantir coerência entre os Estados-membros da União Europeia.
Principais Modificações Legislativas Propostas
1. Uniformização de Procedimentos
Há um esforço significativo para padronizar os procedimentos aplicáveis nos procedimentos de sanção. A competência das autoridades nacionais de proteção de dados, sobretudo no âmbito da cooperação transfronteiriça, será detalhada em nova diretriz, promovendo maior previsibilidade regulatória (Art. 60 e seguintes do GDPR).
2. Reforço ao Mecanismo de Ônus da Prova
O texto reforça o princípio da responsabilidade ativa (accountability), exigindo que o controlador comprove, de forma documentada, sua adequação às obrigações legais. A jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE), notadamente no caso Schrems II, é evocada como parâmetro hermenêutico.
3. Incentivo à Autorregulação e Certificações
O projeto valoriza mecanismos voluntários de certificação e códigos de conduta como formas mais eficientes de supervisão e transparência, conforme os artigos 40 e 42 do GDPR.
O Impacto para os Profissionais do Direito
Advogados especializados em Direito Digital, Compliance e Proteção de Dados devem reposicionar suas estratégias à luz dos seguintes elementos:
- Redefinição de cláusulas contratuais padrão adequadas à nova descrição de responsabilidades;
- Procedimentos internos de avaliação de risco orientados por princípios refinados de necessidade e proporcionalidade;
- Capacitação técnica em Data Protection by Design and by Default (Art. 25 do GDPR).
Com a reforma, a simplificação para o mercado não representa uma mitigação dos direitos fundamentais. Ao contrário, reforça-se o escopo do Artigo 8º da Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia, o qual garante a proteção dos dados pessoais como direito autônomo e diretamente vinculativo.
Considerações Finais
A revisão do GDPR representa um passo audacioso em um cenário onde a tecnologia evolui mais rapidamente do que o Direito. Entretanto, cabe aos operadores jurídicos garantir que tais reformas não conduzam à banalização da proteção de dados, mas sim à sua efetividade real frente aos desafios contemporâneos da inteligência artificial, big data e governança multidimensional.
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Por Memória Forense